Promotor
Teatro Nacional D. Maria II
Sinopse
Agora que se descobriram os ossos de Ricardo III, num parque de estacionamento, é o momento perfeito para fazer desenterrar a peça Ricardo III (1592) de Shakespeare. O autor usa a história de Inglaterra e conta-nos a subida ao trono mais maquiavélica de que há memória; mas em que no fim o Bem vence o Mal.
Agora, que continuamos a assistir a violentos e sangrentos exercícios de poder, é o momento para contar esta história; deste Ricardo, um rei improvável, um indivíduo que tudo fez para ascender ao poder: matando inimigos, amigos, família, mentido, tecendo incríveis erredos.
Agora, também, porque fazer Ricardo III é entrar numa zona maldita do ser, disto de se ser humano. Ele, o pior dos tiranos, o mau dos maus... Um indivíduo deformado fisicamente, manipulador, sedento de poder que despreza tudo e todos; capaz de gerar ambíguos sentimentos: vamos oscilando entre o desprezo e o fascínio por este ser ardiloso, acabando por torcer por ele. É estranho como admiramos este despota e vemos cada morte como uma conquista. E assim vamos seguindo-o, de morte em morte, de mentira em mentira. Tão ao gosto dos dias que correm de barbárie. Como é que tudo isto foi e é possível? Como foi possível escrever semelhante história? Só mesmo Shakespeare. O que escreveu é complexo, universal, intemporal; mas que sentido fazem os nossos dias quando vemos Ricardo III? O que é que evoluimos? Seremos todos Ricardos? Somos, na medida em que Ricardo III é o centro de si próprio, é apenas um actor a descobrir-se, a querer poder, a errar; a explusão do eu: “Ricardo ama Ricardo, ou seja, eu e eu”.*
Agora, porque surgiram as condições certas para desenterrar o desejo de fazer este texto, que nasceu quando interpretei a personagem Arturo Ui, na Resistível Ascensão de Arturo Ui de Bertolt Brecht, pela Truta. Uma reescrita livre de Ricardo III, a ascensão de um indivíduo anónimo até se tornar o maior tirano de todos os tempos. Brecht quis abordar a ascensão de Hitler. Ricardo foi há mais de 500 anos atrás, antes dele Júlio César, no século passado Hitler... e hoje?
Agora, porque é com esta palavra que começa a peça...
Ficha Artística
Coprodução: Teatro Nacional D. Maria II /Stage One / Centro Cultural Vila Flor
Tradução: Rui Carvalho Homem
Direcção Artística: Tónan Quito
Cenografia: F. Ribeiro
Desenho de Luz: Daniel Worm
Figurinos: José António Tenente
Produção executiva: Stage One
Interpretação: António Fonseca, Márcia Breia, Miguel Moreira, Paulo Pinto, Raquel Castro, Romeu Runa, Sofia Marques, Teresa Sobral e Tónan Quito, mais três actores jovens a definir.
Música: Gonçalo Marques (trompete) e João Ribeiro (percursão)