Promotor
Teatro Nacional São João E.P.E.
Breve Introdução
Se eu falo nisso, as coisas entre nós mudam para sempre. Entramos na idiossincrática ORowelândia pela sua penúltima peça, Os Nossos Dias Poucos e Desalmados (2014), numa encenação de João Cardoso. No percurso de Mark ORowe, este texto rompe um hiato de sete anos desde Terminus (2007), período em que o dramaturgo se dedicou a adaptações de Shakespeare e Ibsen e à escrita de argumentos para televisão e cinema. O monólogo como máquina de narração e rememoração, tão caro a ORowe nas peças anteriores, dá aqui lugar a uma simétrica e concatenada sucessão cronológica de seis cenas, igualmente distribuídas por dois atos, com um prólogo e um interlúdio. A potência da contracena e a cadência dos diálogos que as animam, curtos e naturalistas, sobrepostos ou truncados, é um dispositivo de desnudamento de um passado que consome as personagens. Em vez da torrente de palavras de outrora, a linguagem é agora quase ascética. É que há um segredo funesto a assombrar a família-protagonista de Os Nossos Dias Poucos e Desalmados, cujos contornos se desenham por detalhes, pausas, silêncios, como num puzzle. Com um lastro cinematográfico na forma como suspende cada cena, trabalha as elipses e os fundidos a negro, este drama familiar sobre a culpa, o sacrifício e o amor tem a claustrofobia de um thriller psicológico percorrido por uma tristeza palpável. Porque é que não me amas?
Preços
Plateia: 10,00€