Promotor
Ágora - Cultura e Desporto do Porto, E.M., S.A.
Sinopse
En Rachâchant
Danièle Huillet, Jean-Marie Straub
França France, 1982, FIC, 7´
Zero em Comportamento - Zero for Conduct
Jean Vigo
França France, 1933, FIC, 49'
As curtas antes do Curtas. Porque é que fundamos há mais de 30 anos um festival de curtas? Eu acho que já ninguém sabe, foi uma opção um pouco inconsciente numa altura em que curta-metragem era algo que nem sequer fazia parte do vocabulário corrente. Mas acredito que os filmes que tínhamos visto, num passado mais ou menos recente, devem ter tido um papel importante. Aproveitei o mote lançado pelo Porto/Post/Doc para revisitar aquilo que seria o meu cânone pessoal da curta-metragem antes de fazermos um festival dedicado às curtas. Um exercício de memória onde devem existir algumas falhas. Mas, ao contrário de alguns filmes que vi há dois anos, há algumas curtas que sei exactamente onde e em que circunstância foram vistas, pois eram coisa rara. Desde logo, o primeiro filme que vi no cinema era uma curta, Le ballon rouge, de Albert Lamorisse, numa sessão de Natal da empresa onde trabalhavam os meus pais. Ou os filmes do programa “Animação”, do Vasco Granja, desde o Bugs Bunny e o Daffy Duck até ao Norman McLaren. A programação da RTP2, que podia surpreender com obras como; Film, do Samuel Beckett, ou La Ricotta, de Pasolini. As sessões do Cineclube do Norte, onde vi com alguns dos meus futuros colegas do festival, na mesma sessão, o Noite e Nevoeiro do Resnais, e La sequenza del fiore di carta outra vez Pasolini. De todos estes, ficaram para o programa no Porto/Post/Doc dois filmes vistos no festival de cinema da Figueira da Foz, em anos distintos, o Zero de conduite do Jean Vigo, que recordo, se a memória não me atraiçoa, como parte de uma escolha do Manoel de Oliveira, e En rachâchant, de Straub e Huillet, apresentado na competição de curtas-metragens, que penso ter sido premiado. Foi mera coincidência, mas verifico agora que ambos são exemplos de contestação e resistência, dentro da escola, a toda a manifestação de autoridade: no filme de Straub- Huillet, baseado num livro infantil de Marguerite Duras, um menino recusa-se a ir à escola porque lhe ensinam coisas que ele não sabe; o filme de Jean Vigo, proibido em França durante quase duas décadas após a sua realização, retrata um grupo de estudantes de um rígido colégio interno que se revolta contra a instituição, e o filme é ainda hoje considerado um dos mais ousados actos de rebelião da história do cinema. (Miguel Dias)
The short films before ‘Curtas’. Why did we found a short film festival more than 30 years ago? I don't think anyone knows anymore, it was a somewhat unconscious choice at a time when short films weren't even part of the current vocabulary. But I believe that the films we had seen in the more or less recent past must have played an important role. I took advantage of the motto launched by Porto/Post/Doc to revisit what would be my personal short film canon before we held a festival dedicated to short films. An exercise in memory where there must be some flaws. But unlike some films I saw two years ago, there are some short films that I know exactly where and under what circumstances they were seen, because they were rare. First of all, the first film I saw at the cinema was a short, Le ballon rouge, by Albert Lamorisse, at a Christmas screening at the company where my parents worked. Or the films on Vasco Granja's ‘Animação’ programme, from Bugs Bunny and Daffy Duck to Norman McLaren. RTP2 TV Channel, could surprise you with works such as Samuel Beckett's Film or Pasolini's La Ricotta. The screenings at Cineclube do Norte, where I saw Resnais' Night and Fog and Pasolini's La sequenza del fiore di carta again with some of my future festival colleagues at the same screening. Of all these, two films I watched at Figueira da Foz film festival in different years, were included in the programme at Porto/Post/Doc: Jean Vigo's Zero de conduite, which I remember, if memory serves, as part of a choice by Manoel de Oliveira, and En rachâchant, by Straub and Huillet, presented in the short film competition, which I think won a prize. It was just a coincidence, but I now realise that both are examples of debate and resistance, within the school, to any manifestation of authority: in Straub-Huillet's film, based on a children's book by Marguerite Duras, a boy refuses to go to school because he is being taught things he doesn't know; Jean Vigo's film, banned in France for almost two decades, after it was made, portrays a group of students from a strict boarding school who rebel against the institution, and the film is still considered today to be one of the most daring acts of rebellion in the history of cinema. (Miguel Dias)