Produtor
Medeia Filmes Lda
Breve Introdução
AS FÉRIAS DO SR. HULOT
Les Vacances de Monsieur Hulot
de Jacques Tati
com Jacques Tati, Louis Pérault, André Dubois
França, 1953 | 1h20
Festival de Cannes 1953 – Prémio da Crítica Internacional
Oscars 1956 - Nomeação Melhor Argumento
Gostaria de dizer quanto é magnífico este filme. Mas não sei dizer bem como… Creio que faz parte daquelas obras, que surgem em quadrantes vários, vivendo sobretudo da não-necessidade de comentários, de grandes “exegeses” (embora, é claro, estas se possam fazer).
[…]
Os planos iniciais de Les Vacances de Monsieur Hulot, com aquele mar batendo a areia, a “praia” solitária, é bem o mostrar das direcções opostas, mas ‘convergentes’ que marcarão o filme e esta figura de Tati. De vários lugares convergem para ali (e é o que de seguida vemos) os veraneantes, os citadinos que vão a banhos. De comboio, em camionetas, de bicicleta, de automóvel. O mundo dos campos surge neste começo do filme como aquilo que se vai atravessar (v. Jour de fête), aquilo por onde se passa para chegar ao local de férias, à praia, ao mar. Para neste reproduzir, ao ralenti, em descanso, os mesmos movimentos, o viver igual que se trouxe. Claro que Hulot chega depois (sozinho no seu descapotável – tínhamo-lo ‘ visto’ nos campos) e aquela corrente de ar que põe a sala em burburinho é já o seu elemento natural.
Esta chegada de Hulot à sala, ao microcosmos social ‘moderno’ e onde está já instalado o ruído que é a comunicação peculiar que se encontra ali (e note-se como o filme é durante algum tempo sem falas; além de viver de situações que tantas vezes não necessitam de diálogo – cómico como é…) – e onde as figuras já estão dispostas para o jogo em sociedade. Creio que nestas ‘férias’ aparte a alegria que sempre está presente quando se trata de praias – há a ferocidade (Renoir não era também francês?) frente à capacidade de auto-reprodução do espaço social (o capitão da cavalaria, o banqueiro acoplado ao telefone…) que nos é talvez dado naquele plano dos veraneantes no banho – que mais parecem mosquitos num charco. O modo como Tati baliza o jogo social é tremendo (e subtilíssimo): veja-se, por exemplo, os dois caminhos que se traçam no filme, o da loira Martine e o de Hulot (ele com a sua ‘mansardinha’, ela de ‘balcão’ esplêndido – como Tati no-lo recorda, várias vezes, ao longo do filme). A sequência de distúrbios, de gags ‘sonoros’ que é Hulot, e estas férias, -aquele seu automóvel é o estrépito que faz vibrar o filme inteiro!, torna o próprio Hulot observador/interveniente implacável, embora distraído, de toda a maquinaria social – mesmo à beira-mar.
Gil Abrunhosa, folhas da Cinemateca Portuguesa
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