Produtor
Medeia Filmes Lda
Breve Introdução
TRAFIC – SIM, SR. HULOT
de Jacques Tati
com Jacques Tati, Marcel Fraval, Honoré Bostel
França, 1971 | 1h36
National Board of Review 1973 – Melhor Filme Estrangeiro
Este observador incessante e divertido, que é Tati nos seus filmes, curiosamente, não cede à narrativa; antes, a sua visão ‘abstracta’ do real – num sentido que diríamos próximo da pintura ou da música – é que está muito perto dos meios da pintura contemporânea (e é o que torna tão certeira a sua análise – ou visão?). E talvez esteja também perto de uma tradição literária – e Tati é não-literário por excelência! – de que Gogol é expoente.
Isto para dizer que Trafic é o filme mais “narrativo” de Tati. Esta odisseia do automóvel e dos protagonistas que é a viagem até ao salão automobilístico de Amsterdam (viagem que aponta outras; v. os lançamentos espaciais que o mecânico vê pela T.V), não é só a revelação “épica” do automóvel, as peripécias cómicas da sua e da nossa existência; mas é igualmente a descoberta que a public-relations girl faz de si, isto de passagem, como sempre sucede em Tati, entre a sinfonia rodoviária e as paragens campestres… Em certo sentido, é um filme de um romance de aprendizagem por automóvel: Da sua entrada em cena, na fábrica, em que ela crepita, eficiente, ‘portátil’ – com a indumentária ‘ultra-moderna’, passando pelo seu MG desportivo, onde se veste, tirando o chapéu da roda sobresselente até à fralda de fora e jeans com que termina; e quando esta rapariga “sem nome”, mudada pelo trânsito, pela viagem, e por aqueles desvios – paragens – chora o cãozinho (o gag é estupendo!) que julga morto – é que a descoberta de si se inicia, deixando de estar convertida ao ritmo daquele tráfico, e encontrando um caminho no meio do tráfego…
Diga-se, com isto, que nos seus planos amplos, onde tudo se integra, Tati nos dá uma aceitação do moderno e contemporâneo, que é uma das suas grandes criações.
Gil Abrunhosa, folhas da Cinemateca Portuguesa
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