Produtor
Medeia Filmes Lda
Breve Introdução
PARADE
de Jacques Tati
com Jacques Tati, Karl Kossmayer, Pierre Bramma
França, 1974 | 1h29
Festival de Cannes 1974 – Selecção Oficial, Fora de Competição
London Film Festival 1975 – Grande Prémio
Rodado em vídeo, com uma estrutura que segue de perto a de um hipotético programa televisivo de variedades, Parade é uma obra singularíssima na filmografia de Tati. Em primeiro lugar, claro, pelas peculiares condições e circunstâncias em que o rodou. Mas também, e sobretudo, por aquilo que fez com elas. Não será um “filme-testamento”, por maior que seja a tentação de olharmos assim para o derradeiro filme de um gigante como Tati (que de resto não pensou Parade como seu último trabalho), mas lá que passa por aqui uma ideia de “súmula” dos principais fundamentos da sua obra, eis algo que parece difícil de desmentir. Depois da acumulação e da sofisticação de Playtime (via ainda seguida no magistral Trafic), Parade é quase um desnudar, um regresso ao básico, uma espécie de raio X aplicado ao cinema de Tati. Num certo sentido, há aqui uma dimensão quase pedagógica (Tati, no papel de director do circo, a funcionar como um “demonstrador”, como um professor de mecânica cómica) que se liga às fabulosas curtas-metragens onde o cineasta “explicava” como devem andar os carteiros ou como se deve jogar ténis, por exemplo. Parade é Tati sem Hulot, deixando perceber que Tati sem Hulot é Hulot sem gabardine – fica a mecânica, a estrutura, o esqueleto, mas sem qualquer capa. Tudo o resto é a mesma coisa.
[…]
Parade é, finalmente, o mais genuíno “documentário” daquele que, para alguns (e de maneira não tão provocatória quanto pode parecer), é o maior documentarista da história do cinema. Não sabemos, em Parade, o que foi encenado (os momentos, no “prólogo”, nos bastidores ou no bengaleiro; a participação, espontânea ou preparada, do público); mas o certo é que tudo – aquilo que se suspeita ter sido encenado e o que não se suspeita – é visto e mostrado da mesma maneira. Tati perante uma audiência “ao vivo”, Tati perante uma orquestra de figurantes – vai dar ao mesmo, e Parade é, no fundo, o documento dessa relação.
Luís Miguel Oliveira, folhas da Cinemateca Portuguesa
Preços