Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Richard Youngs
“I think I’ve always done what the hell I wanted to do, and if there is a theme [across my work], it’s that. I’m pretty convinced that you could play one album, and then play another, and someone might not hear the link at all. But the link is that, at the time, it gripped me, and I needed to do it.”
É com esta simplicidade desarmante em entrevista ao Bandcamp Daily em 2024 que Richard Youngs, numa tentativa sempre infrutífera mas gratificante de mapear a sua imponente discografia, nos revela os impulsos ocultos de uma obra tão expansiva quanto imprevisível. Contando com mais de 150 lançamentos, entre álbuns, EPs, singles tanto a solo como em regime de colaboração, a trajectória de Youngs refuta qualquer linearidade processual, desenhando uma cartografia vasta que passa por inúmeras linguagens e abordagens, guiada por uma intuição e sentido de descoberta e desafio constantes. Remontando a meados da década de 80, embrenhado na então fértil cena industrial britânica, o músico sediado em Glasgow tem desde então impulsionado uma actividade constante que teve primeira grande revelação com a edição do já clássico 'Advent' em 1988, naquele que Alan Licht considerou um dos 10 clássicos do minimalismo, e que tem sido continuamente nutrida por entre passagens pela folk, drone, rock electrificado, discos a capella, flirts idiossincráticos com o prog, experiências com electrónica, "encomendas" country e tudo mais que em determinado momento o tenha inspirado. Sem ponta de diletantismo. Instinto, alegria, bravura em fazer dessas outras músicas algo seu. E é.
Daí, chegar a um apanhado geral dessas vontades, mesmo que pela rama, será sempre tarefa ingrata. Algo ficará sempre de fora. Na década de 90, colaborou frequentemente com Simon Wickham-Smith, numa relação simbiótica marcada em discos como 'LAKE' ou 'Ceacescu', onde percussão fajuta vinda do fundo da sala, drones hipnóticos, spoken word ou devaneios com fita pintam um mosaico aural quase táctil no seu espírito bem DIY de descoberta, ao mesmo tempo que grava álbuns a solo para editoras de respeito como a VHF ou a Table of the Elements. Na passagem do milénio, enceta uma relação frutuosa com a Jagjaguwar, num affair que o levou a um consciente colectivo mais alargado por via de discos como 'Naive Shaman' - mantras envolventes para uma profusão de vozes e ressonâncias e bom ponto de partida para noobs - ou 'Summer Wanderer' - hinos a capella - e na reedição de CDrs anteriormente confinados à sua sempre activa No Fans - 'Beyond the Valley of Ultrahits' é o disco pop que não fizemos por merecer, mas que existe porque assim tem de o ser. Na década seguinte, seguem-se discos na Alter ou Ba Da Bing! - para 'Summer Through My Mind' foi-lhe pedido um disco country, e Youngs entregou uma visão pessoalíssima do que isso possa ser - e uma curiosa/fascinante série de discos para guitarra tocada com os pés apropriadamente intitulados 'Foot Guitar' que superam largamente as expectativas que esse gimmick faria prever. Já nesta década, e continuando a deixar trabalho de valor na sua No Fans, gravou também para a Black Truffle de Oren Ambarchi, com 'Modern Sorrow' a revelar que a influência de alguém como o Drake pode ser uma benção, num disco onde a sua voz se deixa levar pelo néon do autotune sobre acordes minimais de piano e uma caixa de ritmos repetitiva em duas longas digressões apaixonadas. Sempre imprevisível, sempre bom. Abençoado seja.
BS
Abertura de Portas
21:00
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